terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Frank Hartung Guitars

Tenho visto muita coisa interessante em minhas andanças pela internete quando pesquiso informações sobre a construção de instrumentos musicais. Seja pelo design diferenciado e criativo, ou pelo uso de materiais inusitados (madeiras exóticas, metal, acrílico, etc), ou ainda pela habilidade na execução do projeto, vários luthiers tem contribuído para ampliar minha visão sobre o assunto. Não seria exagero dizer que alguns instrumentos são verdadeiras obras de arte. O trabalho desses mestres é para mim motivo de admiração e inspiração.

Periodicamente vou publicar artigos sobre alguns desses luthiers e colocar fotos de seus trabalhos. Vou iniciar com Frank Hartung da Frank Hartung Guitars. Uma das marcas registradas desse luthier alemão é o corpo esculpido que dá uma sensação de tridimensionalidade. O design, por ele denominado Flow Carving, é inclusive protegido por direito de uso. Tudo feito artesanalmente, é claro.


Outra assinatura de Hartung é o design único da mão da guitarra (headstock).


Hartung só utiliza madeiras de alta qualidade e opta geralmente pelo flamed maple como top em suas guitarras. O acabamento/polimento é primoroso, o que contribui ainda mais para dar um efeito tridimensional. Outra característica de suas guitarras é a preferência pela construção - strings through body, ou seja, as cordas atravessam o corpo e se prendem na parte traseira.


Algumas guitrras tem um trabalho de incrustração (inlay) bem cuidadoso.



Uma belezura dessas custa a partir de 2,500 Euros. Veja outros exemplos de seus trabalhos:




Olha o cara trabalhando:


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

1, 2,3 testando ...

Comprei uma serra tico-tico em dezembro de 2010 e, como nunca havia usado uma antes, resolvi fazer um teste antes de usa-la no projeto. O molde foi um painel de fotos de metal que ganhei de presente da minha namorada (obrigado, minha linda!). Usei aglomerado para o braço e MDF para o corpo. Claro que não é a mesma coisa de serrar uma madeira sólida de quase 5 cm de largura, mas já deu para ter idéia de como é. Aí vão algumas fotos:



Corte do corpo - senti alguma dificuldade para fazer as curvas mais fechadas. Depois vi uns vídeos que recomendam cortar aos poucos, sem se preocupar em ficar com a curvatura perfeita nesse momento. Esse acabamento pode ser feito pela tupia, lixa ou lima posteriormente. Eu fiz usando lima e lixa. O importante é nunca adentrar na linha do desenho. Deu um trabalhinho, mas até que ficou bom. Sujeira? Que nada!



Corte do braço - o aglomerado é bem mais fácil de serrar do que o MDF. Acabei errando a mão e uma lateral ficou um pouco torta. Melhorei um pouco com a lixa, mas ainda ficou perceptível.



Escavação do encaixe do braço - usei o formão para fazer o encaixe do braço. Essa parte exige bastante paciência e até que o resultado ficou bom.



Escavação no corpo - fiz alguns abaulamentos com a lima para o corpo não ficar tão "quadradão".


Pintura - não tinha experiência com pintura de madeira. Usando o rolo, passei duas mãos de tinta branca, coloquei fita crepe para fazer linhas horizontais e depois mais duas mãos de tinta vermelha por cima. O resultado não ficou como eu esperava e apresentou algumas bolhas.


Colando o braço no corpo.


Resultado final.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Tudo começa pelo planejamento

Pode até parecer papo de administrador de empresas, mas um planejamento detalhado é essencial para que a construção de uma guitarra seja um projeto bem sucedido. A falta de planejamento pode influenciar de forma irreversível a construção do instrumento, afetando seu timbre e “tocabilidade”. Futuras alterações podem ser difíceis ou até mesmo impossíveis de serem feitas após iniciados os trabalhos. Isso sem contar os custos envolvidos.

Os sites que tenho pesquisado sobre o assunto são unânimes em recomendar que se dedique um bom tempo ao planejamento antes de ligar qualquer serra elétrica. A seguinte máxima é citada várias vezes - measure twice, cut once (algo como - meça duas vezes e corte uma única vez). Portanto, é melhor segurar a ansiedade antes de sair cortando madeira.

São inúmeras decisões a serem tomadas. As definições mais óbvias estão relacionadas ao desenho da guitarra, aos tipos de madeiras usadas em cada parte, quantidade e tipo de captadores, modelo de ponte (fixa ou com alavanca), etc. Outras decisões não tão aparentes, mas que têm grande influência no timbre do instrumento e na forma de tocar são: o tamanho da escala, o tipo de junção do braço ao corpo, a forma de construção da mão (headstock), o tipo de traste, e várias outras. Essas decisões são influenciadas pelo tipo de sonoridade que se procura para o instrumento.

No momento, eu estou na fase de buscar mais conhecimento sobre o processo de construção e terminando o planejamento. Algumas coisas já estão definidas.

O modelo que eu escolhi chama-se Highline Special, e foi desenhado pelo luthier Chris Monck do site eguitarplans (veja o endereço do site em links à direita da página). Eu baixei o projeto completo dessa guitarra em dezembro de 2010, oportunidade em que foi oferecido gratuitamente no site. É um desenho clássico claramente inspirado na Fender Stratocaster. Apesar de eu não ser o maior fã das Stratocaster, escolhi esse modelo por várias razões:

* simplicidade - como não tenho experiência, optei por um modelo que fosse de construção mais simples. As Stratocasters são provavelmente o modelo mais simples de guitarra. As Les Paul, por exemplo, têm o corpo esculpido arch top (a parte superior não é plana, e sim arqueada), o que é muito mais trabalhoso e exige maior habilidade do luthier. Outra característica que traz simplicidade à Highline Special é que seu corpo é feito de uma única peça de madeira e não exige a colagem de tops(1).

* beleza - a guitarra tem o corpo mais “gordinho” do que uma Stratocaster e ficou muito equilibrado e bonito na minha opinião. Gostei também do desenho da mão da guitarra e do escudo.

* exclusividade - é uma guitarra exclusiva, no sentido de não ser um modelo produzido às centenas por uma fábrica. Trata-se de um modelo inspirado em linhas clássicas, porém que não será encontrado em qualquer esquina.




A guitarra não deve ficar muito parecida com a da foto. Minha intenção inicial é fazer o acabamento em pintura, ao invés de deixar na cor natural da madeira. Isso porque, como se trata de uma primeira tentativa, devo comprar uma madeira mais barata e que possivelmente não apresentará um padrão tão bonito quanto o que foi usado. Além disso, vou usar uma ponte fixa, ao invés de uma com alavanca. Os captadores serão dois do tipo humbucker.

Minha idéia é que a guitarra tenha um timbre encorpado, que privilegie os médios e graves e de preferência com bastante sustain. Quero que ela tenha um timbre vintage e não tão cristalino quanto o das Stratocasters.



1) o corpo de alguns modelos de guitarras é feito por uma base sobre a qual é colado um outro tipo de madeira na parte superior (top). Geralmente os tops são madeiras nobres que apresentam padrões e desenhos naturais e são usados mais para fins de decorativos. Como se tratam de peças caras, não são utilizados para fazer todo o corpo.