Frequentemente ouço e leio coisas do tipo: a Les Paul de mil novecentos e sei lá quanto é muito melhor que as atuais, a Stratocaster de mil novecentos e bolinha tem um timbre incomparável e etc. Alguns instrumentos vintage são tão bajulados e passam a ser idolatrados de tal forma que ganham uma aura mítica, batendo recordes de milhares de dólares seguidamente em leilões.
Do mesmo modo não é incomum ver alguns luthiers se gabando de possuirem estoque de Jacarandá derrubados a mais de 30 anos como se isso por si só garantisse a qualidade final do instrumento.
Acho que por eu não ser músico profissional e não ter experimentado tantos instrumentos me dá uma certa liberdade de questionar essas "verdades universais". O que se sabe é que a madeira perde umidade e melhora suas características sonoras com o passar do tempo. Entretanto, eu não creio que esse processo ocorra indefinidamente, ou que isso seja perceptível no timbre do instrumento depois de certo amadurecimento da madeira.
Além disso, a manutenção do instrumento também influência bastante no timbre do instrumento. Variações frequentes e extremas de temperatura, ou choques físicos (quedas, por exemplo) certamente influenciarão negativamente na sonoridade de um instrumento que não tiver recebido manutenção adequada.
Do mesmo modo não é incomum ver alguns luthiers se gabando de possuirem estoque de Jacarandá derrubados a mais de 30 anos como se isso por si só garantisse a qualidade final do instrumento.
Acho que por eu não ser músico profissional e não ter experimentado tantos instrumentos me dá uma certa liberdade de questionar essas "verdades universais". O que se sabe é que a madeira perde umidade e melhora suas características sonoras com o passar do tempo. Entretanto, eu não creio que esse processo ocorra indefinidamente, ou que isso seja perceptível no timbre do instrumento depois de certo amadurecimento da madeira.
Além disso, a manutenção do instrumento também influência bastante no timbre do instrumento. Variações frequentes e extremas de temperatura, ou choques físicos (quedas, por exemplo) certamente influenciarão negativamente na sonoridade de um instrumento que não tiver recebido manutenção adequada.
Dito isso, compartilho uma experiência interessante publicada recentemente pela física Claudia Fritz do France's National Center for Scientific Research e divulgada pela agência de notícias NPR. Um grupo de 21 violinistas experientes realizaram um teste às cegas com 6 violinos, sendo 3 deles antigos e super famosos (2 Stradivarius e 1 Guarneri) e 3 violinos modernos. O desafio é que eles identificassem quais instrumentos eram os violinos fabricados pelos famosos luthiers italianos.
Conclusão: a maioria não soube identificar ou erraram as respostas. Além disso, quando perguntados qual violino escolheriam para levar para casa 75% dos violinistas escolheriam um violino moderno. A única tendência estatisticamente observada foi um certo desfavorecimento de um dos violinos Stradivarius. Resultados semelhantes ocorreram com testes de outros instrumentos.
Para quem não sabe, os violinos Stradivarius são conhecidos como obras de arte perfeitas e já chegaram a ser vendidos por 11 milhões de Euros. Vários estudos foram realizados para descobrir o tipo de madeira, a cola utilizada, as técnicas de construção, etc. Reza a lenda que foram fabricados com madeira mineralizada que permaneceram enterradas em pântanos por séculos. Esse processo de envelhecimento seria um dos responsáveis pelo som especial desses violinos.
Ou seja, quando retirado o viés de se saber antecipadamente que determinado violino tinha mais de 300 anos e que foi fabricado por luthier famoso, musicos profissionais não conseguiram distinguí-lo. Claro que isso não quer dizer que o violino Stradivarius seja ruim, muito pelo contrário. No entanto, o simples fato de ser um instrumento antigo não o faz melhor que violinos modernos de excelente qualidade.
Experimento semelhante realizado às cegas entre someliers para distinguirem quais vinhos eram os famosos e caros em comparação com vinhos medianos deram os mesmos resultados. Ou seja, a etiqueta e o preço do vinho exercem claramente influência na percepção da sua qualidade da mesma forma que a idade e a marca de uma guitarra, por exemplo.
Portanto, não acredite muito nas "verdades universais" que você ouve por aí e poupe seu suado dinheiro ao investir fortunas em instrumentos antigos pelo simples fato de serem antigos. Uma Fender Stratocaster fabricada no mesmo ano que a guitarra do Jimi Hendrix não necessariamente será uma boa guitarra. E nem fará com que você toque igual a ele. Acredite na sua percepção. Se soar agradável aos seus ouvidos e se tiver boa tocabilidade na sua opinião, é isso que importa, independentemente de ser ser uma guitarra chinesa ou de uma marca famosa. Um bom instrumento é resultado de madeiras de qualidade e de boa técnica de construção.
\m/
PS: não consegui acesso à pesquisa original
http://www.pnas.org/content/109/3/760.full.pdf+html?with-ds=yes
Conclusão: a maioria não soube identificar ou erraram as respostas. Além disso, quando perguntados qual violino escolheriam para levar para casa 75% dos violinistas escolheriam um violino moderno. A única tendência estatisticamente observada foi um certo desfavorecimento de um dos violinos Stradivarius. Resultados semelhantes ocorreram com testes de outros instrumentos.
Para quem não sabe, os violinos Stradivarius são conhecidos como obras de arte perfeitas e já chegaram a ser vendidos por 11 milhões de Euros. Vários estudos foram realizados para descobrir o tipo de madeira, a cola utilizada, as técnicas de construção, etc. Reza a lenda que foram fabricados com madeira mineralizada que permaneceram enterradas em pântanos por séculos. Esse processo de envelhecimento seria um dos responsáveis pelo som especial desses violinos.
Ou seja, quando retirado o viés de se saber antecipadamente que determinado violino tinha mais de 300 anos e que foi fabricado por luthier famoso, musicos profissionais não conseguiram distinguí-lo. Claro que isso não quer dizer que o violino Stradivarius seja ruim, muito pelo contrário. No entanto, o simples fato de ser um instrumento antigo não o faz melhor que violinos modernos de excelente qualidade.
Experimento semelhante realizado às cegas entre someliers para distinguirem quais vinhos eram os famosos e caros em comparação com vinhos medianos deram os mesmos resultados. Ou seja, a etiqueta e o preço do vinho exercem claramente influência na percepção da sua qualidade da mesma forma que a idade e a marca de uma guitarra, por exemplo.
Portanto, não acredite muito nas "verdades universais" que você ouve por aí e poupe seu suado dinheiro ao investir fortunas em instrumentos antigos pelo simples fato de serem antigos. Uma Fender Stratocaster fabricada no mesmo ano que a guitarra do Jimi Hendrix não necessariamente será uma boa guitarra. E nem fará com que você toque igual a ele. Acredite na sua percepção. Se soar agradável aos seus ouvidos e se tiver boa tocabilidade na sua opinião, é isso que importa, independentemente de ser ser uma guitarra chinesa ou de uma marca famosa. Um bom instrumento é resultado de madeiras de qualidade e de boa técnica de construção.
\m/
PS: não consegui acesso à pesquisa original
http://www.pnas.org/content/109/3/760.full.pdf+html?with-ds=yes
Eu nunca acredito em verdades universais, pq como já diria o Nelson Rodrigues: "toda unanimidade é burra."
ResponderExcluirTemos sempre que pensar e criticar as coisas, tendo a visão de que marca/nome, nem sempre é sinônimo de qualidade, né.
Adorei o texto!
Parabéns!
Brigado minha linda.
ResponderExcluirBeijos
Encontrei o seu blog à semanas e só quero agradecer a informação e sobretudo a motivação para que eu próprio comece a minha própria aventura na construção da primeira guitarra.
ResponderExcluirEm relação ao assunto das verdades, até que ponto numa guitarra de corpo solido a madeira do corpo é assim tão importante? (tenho uma peavey - imitação de stratocaster com o corpo em plywood (contraplacado marítimo?) e juro que tem um som muito melhor que a minha fender mexicana.
Abraço
Luís Ferreira
Lisboa
Seja bem vindo Luís. Se precisar de ajuda em qualquer coisa, é só falar. Estou começando também, mas a gente pode trocar informações. Boa sorte no seu projeto.
ResponderExcluirPelo que tenho percebido, uma boa guitarra depende da conjunção de vários fatores: madeira, captadores, ponte, tarraxas e boa construção.
Abraços,
Fabiano
O seu texto é simplesmente ótimo, Fabiano.
ResponderExcluirMuito legal mesmo, meu velho. Boa pesquisa e esclarecimento.
Sou da mesma opinião e também muito suspeito, não é mesmo? Desde 2006 venho fazendo as minhas guitarras. Digam o que quiserem, tenho duas delas feitas em freijó - madeira usada em móveis - que soam de forma única. Outra coisa: li há algum tempo sobre guitarras Gibson que não podem cair no chão com o headstock... elas quebram bem ali... As minhas guitarras não têm esse problema - mas é lógico que não suportariam as porradas e testes de fogo de fim de show do Hendrix, do SRV e outros...
Só não concordo em um ponto, amigo: as guitarras produzidas em série nas indústrias de mão-de-obra barata, como a China, são quase sempre ruins... Vai saber.
Parabéns pelo post. Se eu puder ajudar, estou aí.
Grande abraço.
Alexandre Foureaux.
Obrigado Alexandre. Também já ouvi coisas desse tipo em relação ao cedro e ao tauari. Concordo que a maioria das guitarras chinesas ainda são de qualidade inferior. Falei aquilo só para tentarmos não ter preconceito e quebrar as "verdades absolutas". Grande abraço, Fabiano
ResponderExcluir